Paulo Lerner, fundador da transportadora Portocar, faleceu em 20 de janeiro, aos 78 anos. Empresa prestou serviços ao Unibanco entre 1990 e 1996. Itaú alega que valores não condizem com a realidade.
O empresário Paulo Lerner morreu em 20 de janeiro, aos 78 anos, em decorrência da Covid-19 contraída em junho do ano passado. Entre altas hospitalares e internações para tratar sequelas da doença, ele travou na Justiça uma batalha que se arrasta há pelo menos 10 anos.
Em 2012, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que a Portocar, transportadora que Lerner fundou no Rio Grande do Sul em 1982, teria direito a uma indenização do Unibanco pelo transporte de malotes entre agências do banco de todo o estado. Estimativas periciais apontam que a indenização pode alcançar até R$ 2,8 bilhões. Porém, desde então, o valor não foi definido, já que, conforme a família, as informações sobre o conteúdo transportado não são disponibilizadas à perícia.
“Temos que continuar o legado dele. Sofremos juntos. Em uma das últimas conversas, em um dos períodos de alta, depois que teve uma parada cardíaca, ele me disse: ‘Tu sabe por que voltei, né?’ Minha mãe tem 74 anos, vou continuar lutando para que ela veja o que ele não viu. Ninguém pede nada que não é seu”, diz a filha Fabiana Lerner.
Conforme o advogado Luis Carlos Pascual, que representa a família Lerner, foram feitas mais de 407 mil coletas no período que a empresa prestou serviços ao banco, tudo registrado na contabilidade interna. De acordo com a decisão judicial, já transitada em julgado, a Portocar teria direito a R$ 25 por coleta e 0,04% do total transportado (valores da época).
O problema é que esse montante, o denominado quantum debeatur, não é apontado pelo Itaú. Em duas perícias já realizadas, a estimativa varia de R$ 1,7 bilhão a R$ 2,8 bilhões, e uma terceira está programada para acontecer nos próximos 30 dias.
“Alegam que faz 20 anos e não tem mais os documentos. Mas há 20 anos sabem da ação e têm o dever legal. Não dá para ficar num limbo jurídico, de insegurança social, de não conseguir cobrar uma dívida”, afirma o advogado.
Já o Itaú alega “que os números informados pela empresa no referido processo não condizem com a realidade”.
A empresa sustenta ainda que fazia apenas o transporte, sem seguranças armados ou em carros-forte, e em todas as ocasiões de roubos e assaltos precisou arcar com os custos.
“Eles não têm interesse em procurar resolver. Participei como assistente da perícia nos processos e o perito deles não compareceu. Todos os documentos da nossa parte foram apresentados. A empresa consegue confirmar todas as coletas e entregas, mas o que continha, só o banco. Era lacrado”, destaca Fabiana.
“Tem anos inteiros sem movimentação, o que é impossível”, destaca Pascual.
Paulo nem sempre foi empresário no ramo dos transportes. Ele começou como leiteiro, em Montenegro, a 60km de Porto Alegre, entregando leite em tarros.
Nesta época que conheceu a esposa Noeli, em Feliz, no Vale do Caí . Sem previsão de que o imbróglio jurídico chegue ao fim em breve, a família promete manter a luta em memória do patriarca para preservar o que ele deixou.
“Uma audiência em outubro [de 2021], que ele participou por videoconferência, era pra ser audiência de conciliação. Mas não teve. Ele disse na audiência: ‘Estou cansado’. A empresa trabalhou para a Febraban [Federação Brasileira de Bancos], prestava serviço de excelência, ganhou prêmios, nunca atrasou nada, e o Unibanco fez pressão para retirar o contrato”, lamenta Fabiana.